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Horizonte

Educação Não Formal em Diferentes Contextos:

 Intergeracionalidade, Música, Comunicação e Inclusão

A educação não formal

A ideia de aprendizagem ao longo da vida torna-se cada vez mais importante nos dias de hoje.

Urge refletir, conhecer, compreender as práticas de educação não formal no sentido de entender que a aprendizagem deve, cada vez mais, ser um processo autónomo e sistémico, que acontece ao longo da vida. 

Segundo Garcia (2013), "a educação não formal não é estática, é um campo aberto que está em construção. É composta de uma grande diversidade sendo um aspeto muito importante para o campo educacional, permitindo, além de, contribuições de diversas áreas, a composição de diferentes bagagens culturais." 

 

De acordo com Salgado (1990, pp.105-119), a educação não formal não atribui níveis ou graus educativos e pode ser distinguida pelo seu potencial de flexibilidade e funcionalidade.  

Este tipo de educação inclui todas as instituições, atividades e meios de educação que, não sendo escolares, são criados para atingir objetivos educativos. Neste sentido, é possível salientar que esta educação é realizada fora do Sistema da Educação Oficial. 

 

As expressões e atividades lúdicas fazem, segundo Salgado (1990, pp.105-119), parte da educação não formal, o que facilita o desenvolvimento de capacidades fundamentais para a vida ativa. 

Num sentido de prática profissional, podemos afirmar que a relação de interação com a educação não formal poderá seguir uma estrutura participativa, não formal e dinâmica,  com espaço para imprevistos e outros ideais ao longo das atividades, tais como: promovendo o contacto das gerações mais novas com as mais velhas, através de intervenções que de uma maneira geral possam contribuir para o desenvolvimento pessoal de cada interveniente, a sua satisfação e qualidade de vida.

 

A educação não formal ganha assim uma dimensão globalizante, nos diversos meios onde possa ser aplicada,  permitindo aos técnicos de Educação, liberdade na suas intervenções e procedimentos para atingir determinados objetivos que até podem ser momentâneos, obtendo, no entanto, aquisições positivas para o percurso de vida dos participantes. Desta forma, os mesmos poderão ser mais ativos e autónomos na sua própria aprendizagem.


“Educar não é simplesmente transmitir conhecimentos, mas é um processo pelo qual se vai obtendo a realização humana e a configuração de um estilo de ser, de pensar e de atuar, quer a partir de dentro, quer fortalecendo a personalidade a partir do exterior”
(Barbosa & Galinha, 2013).

A educação intergeracional como processo
de desenvolvimento pessoal e social

O tema da intergeracionalidade incluído na área de educação não formal,  apresenta-se num conjunto de contextos como a intervenção em instituições, os programas que podem e devem ser criados consoante as necessidades do público-alvo e os benefícios para estas duas gerações (crianças e seniores) que permitam compreender de forma mais clara a importância desta temática e o papel dos Técnicos de Educação.


Neste sentido, o papel das instituições, museus, associações entre outros é fundamental para transmitir uma imagem positiva aos grupos sociais. Estas entidades são também cruciais na desmistificação dos conceitos do que é ser "mais velho" ou "idoso", onde a promoção e reforço deste contacto intergeracional com os mais novos (crianças e jovens) possa eliminar preconceitos e criar ideias mais construtivas do mundo que as rodeia.

Camilo (2014), refere-se à intergeracionalidade como “parte intrínseca da constituição das sociedades e assume diferentes contornos na história da humanidade pacificando ou tencionando estas relações em vários campos como na família, na política, no Estado e na escola” (pp. 245-261). 

A promoção da intergeracionalidade auxilia na construção de um melhor ambiente social e cultural.

O envelhecimento das populações sinaliza que é necessário reinventar convívios, criar espaços formais e não formais de educação intergeracional, onde a alegria do aprender de novo, onde o saber e a história de vida de cada um possa ser valorizado, transmitido e renovado. 

Ao planificar as atividades neste âmbito intergeracional,  deve ter-se em conta as características das duas gerações. Contar histórias, interpretar pequenas peças de teatro, realizar oficinas de trabalhos manuais, jogos tradicionais, cantar músicas e comemorar as épocas festivas são exemplos de atividades que poderão ter sucesso nas dinâmicas não formais.

Segundo Brandão et al. (2006), citado por Rodrigues (2014), esta interação entre as crianças e os seniores é extremamente enriquecedora e salutar para ambos. Em algumas sociedades tradicionais, os idosos assumem um papel fundamental em  contar e narrar a história da família, da comunidade, servindo de referência às novas gerações. 

Interligar a educação não formal e a intergeracionalidade gera um conjunto de desafios e oportunidades para uma visão abrangente da educação, podendo cada interveniente ter uma experiência e papel ativo.

Esta interligação suscita circunstâncias para a inovação e transformação das práticas educacionais, sempre com o intuito de mútuas aprendizagens. 

“Educação intergeracional é extremamente importante, sendo que, para se conseguir mudar estereótipos, é preciso mudar as imagens provenientes nos livros escolares,  introduzir nas escolas atividades que integrem idosos e crianças/jovens e, se possível, a comunidade.”
(Rodrigues, 2014, p. 1)

Música sinónimo de aprendizagem,

comunicação universal e inclusão...

"Quem disse que a música precisa de ser ouvida para ser sentida?" (Pina, 2019). 

De acordo com  Monteiro ( 2003, p. 46), cantar com os outros potencia a sociabilidade, a comunicação, as expressões e a aprendizagem. Neste sentido, o campo educativo-musical recebe o impulso de numerosas tendências: a tecnologia musical e educativa, a ecologia, os movimentos alternativos no âmbito da arte, a nova corporalidade de interpretação musical, a música como terapia , as técnicas de grupo e a inclusão.  

 

Como consequência da globalização, das ondas migratórias e da expansão dos povos e culturas,  a música embora possa ter um perfil social transforma-se numa ação de interpretação multicultural (Gainza, 2003), citado por Galán (2009, p.79). Desta forma, podemos afirmar que a música adota a função de comunicar universalmente, não só pela forma de se exprimir, como também pelo que diz, como interpreta e pelo que faz sentir.

 

Segundo Levitin (2007) “Parece que todos temos uma capacidade inata para aprender qualquer música do mundo" (p.115). 

“Ser musical não é privilégio de seres especiais e bem dotados,

é uma possibilidade do ser humano. Pensar o surdo como musical pressupõe a revisão de conceções já estabelecidas” (Haguiara-Cervellini, 2003, p.204). 

O desafio de poder passar uma sensação musical através da Língua Gestual, transforma-se numa potência comunicadora de cantar com as mãos. Deste modo, vem dar resposta à forma de comunicar e de transmitir uma informação, uma letra, um pensamento, uma reflexão, um poema a diferentes públicos, tendo estes, muitas vezes, necessidades educativas especiais. Assim, a música volta a transfigurar-se como agente facilitador das interações e aprendizagens entre pessoas surdas e ouvintes podendo ajudá-las a formar a sua identidade e a adaptarem-se  à sociedade onde estão inseridas. 

A realização de atividades com canções interpretadas em língua gestual conecta-se muito bem com toda a base da educação não formal, visto que a canção pode proporcionar conceitos, histórias entre outras aprendizagens que poderão ser intrinsecamente aprendidas,  melodicamente ou visualmente, no caso das Língua Gestual.

 

Segundo Baptista (2008), sem comunicação, a inclusão dá lugar à exclusão.
Os surdos precisam de ser “ouvidos”, de conversar, de expor as suas ideias, de se expressar. Para isso, nós ouvintes, temos de aprender a comunicar com eles, de aprender a sua língua materna - a Língua Gestual, ao proporcionar-lhes formas comunicativas e informativas para que se sintam integrados nos mais variados espaços e situações.

 

Neste contexto, podemos ainda interligar o braille como passagem de comunicação e interação nesta envolvência musical num determinado grupo, espaço ou instituição.  O sistema braille é um modelo de lógica, de simplicidade e de polivalência, que se tem adaptado a todas as línguas e a toda a espécie de grafias. Com a sua invenção, Luís Braille permitiu aos cegos, uma abertura mais ampla da cultura, rasgando-lhes novos horizontes na ordem social, moral e sentimental e ainda proporcionando a sua integração em vários espaços e atividades.

De uma forma geral, a experiência de educação não formal nos vários contextos teóricos referidos é aplicada tendo em conta: os diferentes públicos-alvo do museu, bem como a inclusão permanente das atividades e exposições que o espaço proporciona.


Com estes pequenos passos, consideramos e sentimos que estamos a dar um significativo contributo para o desenvolvimento da inclusão no museu, através das interações possíveis entre vários "mundos",  aparentemente separados. Com estas dinâmicas estes "mundos" poderão tornar-se mais próximos e inclusivos: integração social, educacional, cultural e de bem-estar social, contribuindo sempre para a intergeracionalidade. 

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